A prática da canoa havaiana ou polinésia é milenar e envolve lendas, crenças, cultura e história. Para os praticantes, até os dias de hoje, muita coisa continua sendo seguida e respeitada. Neste post, vamos falar disso compartilhando um texto de Scott Roche e Greg Kvaska, traduzido por Cauê Serra, com algumas “regras” e curiosidades das canoas.
Leitura longa, mas boa!
Para começar: A primeira coisa a ser lembrada e provavelmente a mais importante é que as canoas NÃO foram criadas apenas com o objetivo de competir. Desde muito tempo atrás elas estão enraizadas em uma cultura de viagens e navegação e foram usadas para transporte, pesca, recreação e esporte. Existem inúmeras lendas havaianas envolvendo as canoas e as “regras” que veremos a seguir.
Regra 1: Porque não posso passar por cima ou pular uma canoa? – Esta regra também vem crenças dos nativos havaianos, os kanaka maoli. Eles acreditavam que dentro de todos nós há uma energia, o “mana”, e é extremamente rude passar por cima de uma pessoa, pois você interrompe o fluxo mana dela e diminui a sua vida. Com a canoa acontece da mesma forma! Não pular ou passar por cima de uma canoa garantirá que ela ficará conosco por mais tempo!
Regra 2: A canoa é viva! – Tempos atrás no Havaí, antes da introdução da fibra de vidro e carbono, as canoas eram esculpidas em madeira. Ou seja, a canoa veio de uma coisa viva! Eram incontáveis horas escolhendo, cortando e carregando árvores da montanha para a praia, escavando e moldando a canoa numa embarcação com condições de navegar. O espírito da árvore vivia na canoa finalizada, e compartilhava o mana de todas as pessoas que ajudaram a construi-la com as pessoas que remavam nela. É isso que torna as canoas tão incrivelmente especiais. Você não apenas está remando com o espírito da canoa, mas também compartilhando o mana de todas as pessoas que remaram nela antes de você. A wa’a (canoa) é uma entidade viva. Você a trata como o sétimo integrante da equipe, adivinha porquê? Sem ela, você não vai a lugar nenhum. Sendo assim, você não faz com a canoa o que não faria com uma pessoa. Às vezes, desrespeitamos a canoa. Peça desculpas imediatamente e tente não fazê-lo novamente. (se desculpar sem mudar seu comportamento, não faz sentido).
Toda wa’a tem uma personalidade que se descobre ao fazer leme nela. Algumas canoas surfam com facilidade, outras precisam de um pouco mais de incentivo, outras são mais receptivas às correções de direção, outras são um pouco mais teimosas. Isso faz parte da mana delas.
Regra 3: Não leve bananas – Parece piada, mas é possível você ouvir isso ao se deparar com o universo da canoa. De onde vem essa história? Qual é o problema com as bananas? Reza a lenda que os havaianos nativos consideravam um mau presságio encontrar alguém levando bananas na canoa. As bananas estragam rapidamente uma vez colhidas, portanto, transportá-las de um lugar para outro de wa’a exigia que as pessoas se movessem rapidamente. Mover-se rapidamente na água significa que não há tempo para pescar. Sem peixe = sem comida. As bananas também são grudentas e viscosas, podem causar acidentes. Portanto, sem bananas no barco.
Regra 4: O uso de sapatos – A calçada ou areia estão quente quando temos que colocar a canoa na água. É bom usar seus sapatos para isso. Mas, por favor, tire-os na canoa e prenda-os no seu banco. Seus pés descalços podem sentir o movimento da canoa embaixo de você. Está pulando? Balançando? Subindo? Se você estiver em um banco que exija que você ajuste o ritmo da remada, a força e sincronia, estar descalço pode ajudar. Será necessário sentir a canoa.
Regra 5: Não fique de pé! – Ficar de pé na wa’a, pisando nos bancos: além da óbvia questão da segurança, pense: Se você não gosta de alguém pisoteando suas costas, a canoa também não gosta.
Regra 6: Posso sentar na wa’a em terra seca? – A menos que haja uma circunstância atenuante, como uma demonstração ou treinamento em terra seca, não sente dentro ou sobre a wa’a em terra seca. Isso é basicamente o mesmo que o a regra 5.
Regra 7: Por que a wa’a fica de frente para o mar quando está na praia? Que diferença faz? Há uma sabia lição que toda criança havaiana kanaka maoli aprende: NUNCA vire as costas para o oceano. Nunca. Desconhecer o oceano é o que leva a afogamentos e morte. Como a wa’a é uma entidade viva, ela deve ficar de frente para o oceano para não reduzir seu mana. Da mesma forma, recuperar uma canoa de um huli e apontá-la para as ondas que se aproximam ajuda a impedir que ela seja inundada novamente.
Regra 8: Pronuncie corretamente os nomes havaianos das partes da canoa. Se o seu nome é Maria e todo mundo simplesmente a chama de Kimberly ou troca o nome das pernas pelos braços, provavelmente você ficaria aborrecido depois de um tempo, não é mesmo?!
Regra 9: Após o treino ou competição – Depende de todos nós ajudar a manter e cuidar da canoa. Lavar a canoa é como dar-lhe um banho. Ela te carregou por quilômetros, talvez até o tenha levado para surfar… ela merece um banho e limpeza da areia ou qualquer outra sujeira. Isso também nos dá a chance de verificá-la quanto a danos, arranhões, amarrações soltas, e outros detalhes que possam precisar de atenção antes dela voltar para o mar. Cuide bem dela, sempre com muito carinho. Obviamente trata-se de cuidar bem do seu equipamento ou equipamento do seu clube.
Regra 10: Respeito! – Estas são as regras mais comuns e realmente tudo se resume a respeito. Sua wa’a é sua companheira de equipe. Ela não é apenas uma coisa para ser usada em dias de prova. Ela é uma coisa viva que respira, e o mana que compartilhamos com ela e com os outros remadores não deve ser negligenciado. Falas positivas, respeito e aloha contribuem para boas experiências para todos os envolvidos.